sexta-feira, abril 02, 2004

Orgulho gelado

Cortava o líquido alterado, rasgava o frio, deixava cicatrizes a seus pés, o fio tracejado guiava os olhos de quem o via....
Hipnotizava, em doces e suaves movimentos aumentando a distância percorrida pelos músculos retesados, o gelo da sua face, era mais frio que o solo que o suportava, os olhos pequenos atiravam olhares-balas do seu negro fundo.
Diria que era máquina se não o tivesse visto a meu lado deixando entrar o frio e expirar quente nevoeiro, assisti à mutação, a meu lado... um ser superior na primeira passada inalada.
Quebrou... no movimento desconcertante do inesperado momento.
Tinha caído... e espalhado a seu lado o orgulho em pequenos pedaços.
Era humano afinal...

quarta-feira, março 31, 2004

Enganar sentido

Escudava no silêncio a vergonha de te dizer...
Sentia-o na derme que me cobria, puxava pêlos para o céu ...
embrulhava pescoço no teu pescoço e na surdina da vergonha gritava baixinho:
Amo-te!”, na esperança que não o tivesses ouvido, mas sentido a vibração no interior...
uma mensagem para o teu interior, queria chegar lá sem te ter tocado o racional, assim ao de leve, sorrateiramente enganar sentidos, semear certeza feita palavra-toque.

Escutaste-me?

Sentiste-me?

Sonhava dias

segunda-feira, março 29, 2004

Nado morto

Entrava pela janela um grito de vento, arrepiava o corpo...
Os raios que agora despontavam embaciavam o frio de dentro, aqueciam o cristal até ao quebrar. Levantei mente atrás do corpo dormente, não sentia os extremos... o pousar dos pés no soalho, rangia ossos de dentro, espetava a fria realidade do que se passava lá fora.
Desci, caí, tropecei na tela a meio do final, tinha já traços, tinha já cor, diria que era parecida com o pai, mas tinha os olhos da mãe, o quente outonal do fundo contrastava com o preto glacial do negro olhar hipnótico com que me olhava...
Irritou-me saber que lhe tinha dado a vida e aquele esgar trocista que... “Porra, merda pró quadro!” pensei e sem pensar aqueci-me nele e ri...o crepitar do seus ossos-madeira e o enrodilhar da sua tela-pele fez-me sorrir... Em mim nasceste por mim morreste!
Deu-me um arrepio...