sexta-feira, novembro 28, 2003

Clave tua...

Teclas forte a vida, saem-te vidas, soltas danças ululantes...
Rasgas o ar com safiras-d´água de dentro, embates em mim, espalhas-te nas paredes, sinto-me... respiro a voz máscula de um embrulho frágil...
Tocas forte, num pianissimo invertido, espraias-te em paisagens invertidas...
Alternas humores, como vestes a vida, cobre-negro, choras alegrias, gritas soluços... sem solução misturas pimenta-saudade em veludo escarlate de claves tuas...

Dedicada à C.S., ouvindo o embate lento como o mel de Fiona Apple.

terça-feira, novembro 25, 2003

Deitado, embrulhado naquilo em que me tornei, entornei...
Esvaziei, cai, desfiz... sou nada, ecoa dentro de mim o som dos outros, ecoa...
cheio de nada, de pequenos nadas, agarrados por fios em mim pendurados...carnaval interno, todo eu sou festa, rimbombeio, bombeio pedaços de papel-estória... saem-me para dentro...todos, os outros...sou o espelho dos outros, difuso, confuso.
Peso mais na lua que amanhã...de manhã, luz, livre, leve, vazio, cheio de um sonho meu, abro portas aos outros
entram em tropel, em pedaços, fragmentos deles em mim, entram pelos ouvidos, enchem-me narinas, afogam-me a boca...
Na escuridão, só... somente só! comigo mesmo...esvazio os bolsos em que me tornei, e encho-me de mim...sonho a vida...lá fora...

segunda-feira, novembro 24, 2003

Mão-Parteira

crio, sou mão-parteira...
Nascem-me dos dedos, pontas de sonhos a traços fortes, a tinta lenta
verde-violetas de caras espantadas, espalhadas, espalmadas no plano da tela...
gritos de unhas... arranco a custo minutos pendurados no ar, agarro-os numa rede-tempo...
saltam, gritam tic-tac´s obtusos, abelhoados, zunem rápidos um tempo agora morto...
olho e não vejo... estou cego...de momento estou cego... fechei os olhos de mim, deitei-me todo num tempo escrito a acrílico, esculpido a pincel, sou tela, quadrada, rectangular...
Renasci lá, nasci de mim, saí de mim, cego...com olhos-memória, vejo o que imagino, nem imaginam o que vejo...

Uma mão-bengala,
guiada por um gato aos ésses...