Um movimento
ondulante, constante,
de cima, para cima,
de dentro, para dentro de ti
-Sentes? -
Numa corda de memórias
Tocas uma melodia disforme,
És um conjunto de pequenos nadas,
Sons que vestem um corpo…
-Onde estás? -
Um corpo molhado de lua,
Banhado em ar
À tua volta pesa…
As narinas entreabrem-se,
Num jeito mal calculado
Entras para fora de ti,
Uma janela separa-vidas..
Um separar hediondo de vidas…
E uma gota chora sobre o vidro
Deslocando o ar,
Tocas-lhe…
Hipnotizada pelo arrastar melodioso
Esboças um sorriso…
Agarra-se a ti,
Desliza no calor
Evapora-se na forma de sentir
- E o que vês ?-
São agora duas,
Fundiste num movimento liquefeito,
Entras na estória,
Pequena estória…
-E o que ouves? -
Conjuntos vocais,
que cantam ao mesmo tempo
numa Coloratura distante
quase inaudíveis
Aplauso de raízes do céu
Folhas de gotas
Cobrem-te agora o rosto
Soltas uma Gargalhada…
És livre…
Sentes o medo nas tuas mãos,
O medo nas tuas mãos
Largas sem força
Para agarrar
Deixas, sem soltar
E num esgar
Viras a cabeça…
Olhas,
Mas não vês
As folhas
toldam-te agora a visão
julgas ver um vulto,
reconheces-lhe a forma…
Tentas tocar-lhe…
Escorrega-te por entre o dedos
Da memória.
-E o que sentes?-
um calor estranho
inunda-te,
sentes um arrepio…
Uns lábios tocam-te
O seu calor desfaz-te…
De dentro,
Para dentro de ti,
Derretes,
Desapareces de ti,
És agora…
Mais uma gota de vida.