terça-feira, junho 03, 2003

Um movimento
ondulante, constante,
de cima, para cima,
de dentro, para dentro de ti
-Sentes? -

Numa corda de memórias
Tocas uma melodia disforme,
És um conjunto de pequenos nadas,
Sons que vestem um corpo…
-Onde estás? -

Um corpo molhado de lua,
Banhado em ar
À tua volta pesa…
As narinas entreabrem-se,
Num jeito mal calculado
Entras para fora de ti,


Uma janela separa-vidas..
Um separar hediondo de vidas…


E uma gota chora sobre o vidro
Deslocando o ar,
Tocas-lhe…
Hipnotizada pelo arrastar melodioso
Esboças um sorriso…
Agarra-se a ti,
Desliza no calor
Evapora-se na forma de sentir
- E o que vês ?-

São agora duas,
Fundiste num movimento liquefeito,
Entras na estória,
Pequena estória…
-E o que ouves? -

Conjuntos vocais,
que cantam ao mesmo tempo
numa Coloratura distante
quase inaudíveis
Aplauso de raízes do céu
Folhas de gotas
Cobrem-te agora o rosto

Soltas uma Gargalhada…

És livre…
Sentes o medo nas tuas mãos,
O medo nas tuas mãos

Largas sem força
Para agarrar
Deixas, sem soltar

E num esgar
Viras a cabeça…
Olhas,
Mas não vês
As folhas
toldam-te agora a visão

julgas ver um vulto,
reconheces-lhe a forma…
Tentas tocar-lhe…
Escorrega-te por entre o dedos
Da memória.

-E o que sentes?-
um calor estranho
inunda-te,
sentes um arrepio…
Uns lábios tocam-te
O seu calor desfaz-te…
De dentro,
Para dentro de ti,
Derretes,
Desapareces de ti,
És agora…
Mais uma gota de vida.

Abafas a respiração,
Escondes a expressão de um beijo
Num trejeito mal ensaiado
Um gesto de mão que autónomo
Ganha expressão
-uma cari­cia

Um beijo que te sai dos lábios,
Desliza para dentro de mim,
Entrelaçam-se os sentimentos,
Tocam-se as emoções.
-um arrepio-

Sentes que não sentes
Desce um acido,
Que te vem do estômago,
Corroi, destroi-te
Mina-te a existência
- Uma dor invisi­vel

Uma duvida,
Sentes que algo floresce dentro,
De dentro de ti
E no entanto...
-um engano desfigurado

Compaixão,
Com a paixão rasgada,
A estravazar de dentro,
Um tropel de cores difusas
Entra-me pelos olhos
Embate doloroso, doloso
Não vejo, não te vejo...¦