Fazes-me falta...
Deixávamos o tempo correr e com ele escorrendo-nos por entre dedos entrelaçados de sorrisos vivíamos...
Na sombra dos dias, encostávamos, adormecíamos... e com o despertar acordávamos vontades redobradas. Deixaste, largaste aos poucos a vontade e eu dormia os dias, encostado ao teu caminhar certo. Sorrias nos dias como abraçavas à noite, quente, doce num ditar de convicções, de histórias recontadas, mas nunca velhas, sentavas no colo o corpo que era o meu e nos teus olhos via-me cândido e embevecido nos sons que me acarinhavam ouvido...Recordo-te agora na dor em gotas, no enrugar dos olhos, não compreendia e perguntava-te o que tinhas, respondias palavras cerradas nos dentes que estavas bem, dói-te não me contares o tormento, escondias dos olhos o corpo que te comia, humedecias olhos e na sombra dos dias gemias... ouvia-te ao fundo, fundo, a cada gemido, gritava eu mais alto no pesadelo da criança.
Largaste, deixaste enfim no dia em que não estava, senti-te, humedeci também eu, tiraste-me o herói, chorei-te, choro-te...
Fazes-me falta...
Dedicado ao homem, ao fadista, ao pai, enfim, ao meu avô.