terça-feira, outubro 26, 2004

Vamos abrandar, por favor!

A pressa de chegar, toldava-lhe a visão, o pé insistia em pisar, cada vez mais fundo, cada vez mais forte, o grito do motor crescia até à loucura da velocidade, tinha de chegar, tinha de lá chegar, eram quase as 10h e a reunião fora agendada, o tempo não parava e merda para o trânsito!, merda para este azelha!, esta cidade estava impossível... já não conseguia fazer nada sem andar a correr, até a morte se cansava de correr atrás e não o apanhava, tocava-lhe com os dedos nos cabelos, sentia-lhe o arrepio... desta safei-me!
Acontecia diariamente, mensalmente, anualmente, minutos acumulados de créditos, créditos de vida, o seu saldo há muito ultrapassado, a moral há muito deixada, afinal , vivia nesta selva de betão, era o vencer ou morrer, tudo se justificava, era o andar esperto ou o olhar mortiço dos derrubados.
Agora que o motor calou, e o saldo esgotou, de bolsos vazios de mais tempo, ficara, cheio...