terça-feira, agosto 17, 2004

As sombras encostadas na parede esmoreciam, desciam até ao negro... a brisa que se levantou, restolhou pela viela como faca em corpo quente. Uma tímida e negra face espreitava, esperava pelo corpo, débil.
No outro lado da cidade a festa tinha começado, os corpos roçavam danças, a luz enchia o espaço... sentiu o abraço, o cheiro da sua pele libertou a vontade, sem mais, reagiu, debaixo do vestido, como que a rasgar o mesmo, despontavam, não podia mais esconder a vontade que lhe queimava o ventre, abocanhou o ser que lhe aprisionava o corpo, racionalmente não o faria, estava descontrolada, queria possuir, era mais forte, era tão forte, algo animal... e deixou-se ir. Os minutos dobravam em gotas de suor e dor, sentia o corpo até ao mais intimo recanto, nunca sentira nada igual, como era possível? Sentir-se tanto na dor, sem amor...
O frio atravessara o cristal que teimava em chorar vapor, o seu corpo sentira o arrepio, pensava agora que nunca o negro tinha tido tanto corpo, quase sentia o escuro de fora...
o tempo teimava no pesado passar, olhava-o no pulso, gesto maquinal, o habito tinha-o feito prisioneiro do seu corpo e o seu corpo definhava no banco onde ela o deixara, amara-o, ele sabia-o, mas a sua condição não permitia acender mais o fogo, tinha tudo acabado naquele final de tarde, era domingo, o levante estava perfeito, como perfeito tinha sido o dia passado no embalar oceânico, na proa do veleiro a silhueta do seu corpo em contraluz dizia-lhe quanta sorte os ventos lhe tinha trazido, era um homem de sorte, sempre se sentira assim...De repente, retranca traiçoeira, uma dor no dobrar indobravel, o branco do silêncio...
tinha sido ai que tudo tinha acabado, ou melhor, tinha sido ai que tinha começado; ele, ela, um novo nós, com novos outros.