Deitei o corpo no tempo...
Acordei sentidos, deixei correr o zéfiro pela derme, estava calmo, descia sobre o corpo a calma exterior, o som que me rodeava cheirava a maresia, os olhos tremiam nos sonhos primeiros... Sonhava já, real, quente bafo da lua no prata emanado, reflectia a minha sombra na parede do quarto, levantei o peso que tinha, desloquei o sonho para a sala, tropecei numa vontade carnal de te possuir, comi, cansei, esgotei, deixei-te dentro o mais alto de mim...
Continuei, os passos dados teimavam em dobrar o chão, a dor que lhe infligia fazia-o gritar baixinho a cada passo dado, continuei, na porta entreaberta a luz deixada acendia a vontade de entrar.
Na mão a maçaneta, na pele a vontade, movi a massa na frente que desconhecia... Lá dentro, o cavalete, o desenho do tempo em traços fortes, branco e negro (como devem ser os sonhos!), e deitavas a costas ao que era, olhavas a frente que tinhas, não via o que vias, não sentia o que querias, mas sabia que ali estavas, de pé, corpo-livre, Homem-Livro... e olhavas a tela onde moravas... e continuei.
Ao quadro que me roubou o sono.Hoje.Obrigado.