quinta-feira, dezembro 18, 2003

Corpo Meu

Embrulhado num corpo meu...
sinto o ascender de líquidos feitos brisa, sinto pele feita couraça...
sinto dedos entre ossos, músculos retesados...estirados, dentro vivo maquinalmente fora do que me rodeia, o ondular do sangue e o seu refluxo deita cores fora, cobre o corpo meu...
água de dentro corre para água de fora, osmose de mim... sinto-me ir, picam-me alfinetes de desanimo... desisto de mente, mas... o corpo meu impele, na sua pele o grito da vida... e continua... arfando a chegada...
o corpo meu...
uma vida dentro da minha, autonomo desconhecido este corpo que é o meu...

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Acordo os olhos...
foco o redor, desfocam...
Foco o avivar da respiração, cadente, quente em tons de nuvem...
Estico, distendo braços e pernas dormentes...
Volto e revolto, fico e vou... Caio no real do sonho, acordo a sonhada realidade
Acordo os olhos...
rasgo sorriso no fogo do astro, no tilintar espanta-espiritos empurrado pelo veludo de uma nortada súbita...
ouço-o quebrar... longe, cadente, raivosas espumas imaginadas, ondas moribundas com chamamentos prementes... vozes cansadas, cordas dobradas... longe.
No carro, motor sistólico, em dança aritmica que me leva até ele... cigarro no bolso da boca, mãos frenéticas ondulam em circulos...
Mais um minuto...
Paro o carro, paro a vida... miro-o, sem o ver... cospe-me na cara verdades, esteve e estará...
e eu... ficarei numa estrada, a meio do caminho, entre este e aquele ponto, algures...

terça-feira, dezembro 16, 2003

De.mente

rodo, rodopio, nem um som... para além daquele roçar de solas em gravilha já por outros pisada...
sinto o enjoo da volta, de volta...
continuo sem que me pare, sem que ninguém me pare...
mais, cada vez mais...
orbita em mim o que vejo... analiso, estudo, observo e vejo-me demente...louco... oco...
cada vez mais e mais... eufórico com dedos a salpicar a cada volta, à volta bocados de mim...
migalhas de mim espalhadas nesta dança de morte, onde a vida me escapa entre dedos, por entre os dedos inchados do tempo, fora de tempo...
Fecho olhos, cerro dentes, engulo certezas...
Cuspo verdades minhas...