quinta-feira, julho 01, 2004

Roçava o tempo devagar, passava pelo corpo...
Doía-lhe saber que avançava para trás, que o dominava.
Abrira a janela e olhara para baixo, lá onde o mundo cruzava corpos nos encontrões da vida, inspirara vontade e no desfocar repentino do infinito ali acabava, tornara tudo tão simples. Decidira viver, deixar a vida, os cânones, as regras e o passado que era presente nada lhe significava já.
Algures no tempo tinha perdido o rumo, algures naquela cidade ficara o seu coração, enterrado, encaixotado, deixara-o com as ritmadas pancadas de terra seca, terra seca na madeira, aquele som tinha, detinha o seu coração...
Deixara-a lá, só...fria, sem cor e com o seu coração...
Ia recomeçar...
Já.

quarta-feira, junho 30, 2004

Desilusão térrea

Deixaste-me cair de entre os olhos, escorri todo pelo que era teu, saí...
enlevado por uma brisa nocturna, arrefeci-te o espirito, transformei corpo em sólido aquoso. Rasguei-te, alma, corpo, crenças...
Derramei pelo chão que te suportava, entranhei por entre pedras, e desci... continuei a descer a onde me pertencia...
A cidade era de betão, descarnado metal, deixava cair derme-cimento, mostrando ossos-ferro onde por entre as brechas nascia o verde. No ar cruzado, gralhas. Corpos nus, promíscuos, enrolavam-se e mutavam almas. Era o vento que lhes tirava o cheiro rodeante, tirava e gretava-lhes a pele até ao sangue exposto. Era assim o céu.
E descia... Continuava a descer...
Voltava ao que pertencia, debaixo, por baixo, lá... no inferno.
Voltei.