2U2
"Se soubessemos quantas e quantas vezes as nossas palavras sao mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo." Wilde, Oscar
segunda-feira, setembro 25, 2006
sexta-feira, agosto 04, 2006
segunda-feira, junho 26, 2006
A Palavra muda
Já tinha sido tempo, já tinha tido o tempo.
Deixara escorrer por entre pensamentos a palavras graficamente escolhidas pela vontade, deixara-as a pairar entre a raiva e a falta de coragem das proferir. Tinha-as dito vezes sem conta, sabia-lhes o cheiro férreo, sentia-lhes o sabor da vingança, doce.
Corria agora, dentro do trilho deixava o som que se lhe soltara da garganta e batera nos dentes, -Malditos!- amordaçada vontade, silênciada a coragem nos lábios...
Continuava.
Fraco.
Esboçara um sorriso, nem por isso deixava de pensar que devia ter dito. Era uma incapacidade física que o amordaçava. Em tudo igual aos outros, um corpo saudavel. Era uma incapacidade física que o cortava. Era uma incapacidade, um rótulo, um destino...
Era surdo.
A todos os surdos do mundo, um compreensivo abraço escrito - Dia Mundial da Surdez 10.11-.
segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Breve
Sinto o corpo, sinto a falta... humm a falta do dobrar, do quebrar. Dói-me pensar... de tempos a tempos penso, que de tempos a tempos sinto.
Intermitentemente sinto, sinto-o. Desperta e aperta ...
Maldito rolar, maldita fuga mental não desejada, ou afinal será.
Queixam-se-me os ossos, o parietal, occipital, aperta.
FIAT LUX!
Bem a deixaria entrar, difusa, refractada numa superficie qualquer, quente, se aqui não fora a ausencia do corpo intermitente, se aqui pensa, aqui é.
Deixo então...
segunda-feira, abril 25, 2005
Agarrado ao humano incerto
Corria as manhãs com a saudade da noite passada.
Deixava para trás a vontade de querer, a vontade de te ter...
Agora , aqui, deixado de mim, despido de tudo, acredito nos olhos que nos meus caem, acredito na vontade.
Deixo no chão os passos do momento, acordo...
Os olhos custam, os olhos doem nas palavras debruçadas, empurradas da garganta , arrancam-me os dentes, rasgam-me os lábios, saem-me da boca.
A boca acompanha o pensar, rápido, mais rápido...
Até à incompreensão, até ao murmúrio, até à silhueta de mim...
Aqui!
Deixo-te no corpo, guardo-te na mente.
Voavas alto, cais perto.
Agarro-te ao momento, agora.
Amo-te enquanto me pensar.
terça-feira, abril 19, 2005
Sabor-a-mim
Tombados, calcados, deixados para trás com a culpa de não saber.
Num desconhecimento tardio, numa tarde deitada na sombra do dia.
No colo descansa agora a noite.
Acordará em breve e na sua negra tela, pintará de prata os corpos agora de fogo.
Num abrir de olhos, verás a cegueira humana forjada, calcada, tombada no chão frio.
Arrepios de mar entrarão pelos teus lábios, sons sairão da areia ...
Num borbulhar intenso, segredar-te-ão aos lábios que degustam as palavras profanadas, desconhecendo os sabores das tuas pupilas.
Num grito mudo rasgo a garganta,
arranco-te a alma.
quinta-feira, janeiro 20, 2005
Minuto seguinte
Ressoava o troar, crescia na medida do tempo, ao minuto descia do alto e caí aqui dentro, batia no peito.
Tremia, a adrenalina subia, o músculo respondia, teso, pronto para o comando ordenado.
A mão segurava o corpo no instável balanço da parede, os vidros reflectiam, o chão cedia, requebrava nas palavras por mim sussurradas, a opacidade do negro, abria os sentidos.
No momento seguinte, o medo, o mais intenso, o mais denso dos sentidos na ponta dos dedos. A força do dedo mental apontava, indicava o caminho, tinha de o seguir, tinha de seguir-Não olhar para trás!
O sonho suspirava num silvo metálico, a realidade escura inundava.
No fundo, a perna cedia passagem à outra, avançava, lentamente, tacteava o frio que envolvia o espaço...
O som do silêncio enchia a cada momento o movimento sincopado do bater.
Surdo, cheio, espesso, o medo do minuto seguinte surgia breve.
Como breve era a minha vida. Aqui.