Cansado
Dobro, dobro-me no tempo, tento esquecer, mas um som...o som, aquele som, lembra-me de tempos a tempos que terei de me desembrulhar, de saltar...irrita-me! São correntes psicológicas de fantasmas reais, que ululam por entre aquelas quatro paredes alvas, gritam frenéticos, abanam braços à minha imobilidade...dobro mais uma vez... e outra vez... decido, decidido desembrulho-me, salto! Dois passos dados e ali, o reflexo de mim colado no cristal húmido, difuso, espelha mais do que sabe a realidade interna, estou difuso, desfocado, enrodilhado. Estico apêndices ainda não meus, abro mãos ainda não minhas, sigo pernas, sinto corpo. intermitentemente, pausadamente, sou!
Mais cansado que dobrado, sigo agora num carro que teima em gritar nas tangentes desta estrada, deixa atrás uma nuvem cinzenta-cobre, arranca a cada curva do manto, frangas do que já foi vida... e sigo, cansado!
Sinto num banco do tempo, cheiros desconhecidos, rostos ainda adormecidos, caminhamos sentados, num fluxo vespertino de consciência... Jorramos na cidade, batemos, frenéticos, cansados...
A todos aqueles que se levantam, ainda que dormentes!
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