segunda-feira, dezembro 29, 2003

Cansado

Havia já uma semana que esta dor não me escapava. Sentia-a, esporádicamente, ao de leve, que o diabo a leve!, pensava.
Carregava-a sem ter noção que agrafada a ela, um testamento, uma certidão a prazo, com prazo se ia escrevendo... em linhas de sombras, letras de dor.
Sentido, sem sentido, continuava, negava-lhe a existência, com insistência voltava e revoltava.
Dei por mim estendido no chão da sala, onde horas antes crepitava a chama, chegava agora um desmaio frio, de gelo...
um arrastar de corpo até ao telefone. "Tá! Vem-me buscar, acho que desmaiei... Senti uma dor e depois... Não demoras? Até já!"
Acordei com a chave na porta, tinha adormecido novamente...
Mas quem estava mais desperto que nunca era aquela dor... sim! era um corpo que vivia dentro do meu... e comia o meu, substituia-lhe o lugar.
corri dentro de mim em busca de um canto onde não me visse, onde não me chegasse, tinha medo... a cada minuto estava mais morto que vivo, condicionado pela dor, descernimento alterado, corpo cansado, apagado...
"Vais ver que não é nada! Vá! Anima-te, Pá!"
ouvia mas não percebia... como era possível dizer que não era nada?, eu sentia-a, aqui... Sim! e doia mais o que vinha do que o que estava...


Dedicado a todos os que não desistem de lutar... pela VIDA.