terça-feira, dezembro 09, 2003

Cirandando

Vageava por entre as ruas arrastando pés de chumbo , sua alma pesava lá dentro... a cada passo enterrava mais e mais o presente, sentia o cheiro do futuro nauseabundo, entranhar-se nas narinas... respirava com dificuldade... o passado puxava-lhe a mão para lembrá-lo do erro... tinha caído em desgraça, enganado por um céu térreo, aqui, mesmo à mão de semear... Definhava... agora a mente..., pois o corpo era um espectro do que fora, sombra de uma vida perene... de vícios de adultos em corpos de crianças...
Arrastava mais os pés, pontapeava folhas de vento, pedras de sonhos, enrugava caras à sua passagem... ninguém o via, aliás, sentiam-lhe o cheiro do desespero agarrado às roupas-pele encardida...
Agarrava a morte que lhe escapava a cada esquina, a cada canto...
Não sabia já seu nome, tivera-o... de tanto uso esqueceu-lhe o som...
Não sabia já a sua morada, tivera-a... de tanto de lá sair esquecera a entrada...

Cirandava por aí...sem passado nem futuro, e com um presente chumbado...

à C.S. pela bússola e sextante...